domingo, 17 de agosto de 2008

O TEMPO DOS AMANTES

O Tempo revoa, meus instantes morrem
A juventuda passa nas balsas da tarde,
E um velho acalanto em meu peito borda
Tristezas de outono, onde a primavera arde.

Navega, oh! balsa dos meus anos,
Vai pelas sendas do tempo sentida,
E busca nas cismas um lago de aromas,
E busca nos lábios um lago de vida.

Por quê foges, oh! tempo de alvorada?
Quando a hora e a luz se fazem mais risonhas!
Por quê partes assim em debandada
Tardes de amor, onde tristeza, sonhas?

A manhã dos meus anos é formosa e cara,
O olhar canta uma juventude em cada fronte
Quando vê passarem, lírios do infinito
As moças que em si resumem flórido horizonte.

A ternura dos meus lábios é só arminhos,
O frescor dos meus gestos é só louros,
Deixa eu coroar a tua fronte com meus beijos
E vestir o dia de teus cabelos douros.

Mas tudo passa... teus dias de menina
São uma tarde que fez-se moça
Ao murmur dos teus carinhos nesta boca
Nenhum dia falecido já remoça.

O tempo, esse falcão ousado
Rouba-nos tudo, juventude! amor! anelos!
Descerra sobre mim o cortinado
Da tenda oriental dos teus cabelos!

Que o tempo passe mas não custe a vida,
Que o dia morra mas não reine a treva,
Quero ficar contigo entre suspiros
Antes que os lírios morram porque neva.


Daniel Pettri

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