quinta-feira, 17 de abril de 2008

Caso do Sempre


Por vires do sonhado amor antigo
Que a sombra de ti esperava dormindo
Terei pra ti eternamente abrigo
Carícia ideal e afã comovido.

Por seres esse ideal de ventura
Sendo tu quem és, de amor na palestra,
A distância mudares em ternura
Que o desejo de encontro manifesta.

Por essa realidade da criatura
Sempre amada, eu e tu, muito a sós,
E por outras talvez mais ignotas...

Caso de amor! Espelho de luz pura!
Eu rasgarei a vida em tiras rotas
Na hora que tudo se acabe entre nós.




Rico Ventre Puro


Rico ventre que jamais me parirá
Seios opulentos que na paz alento
Brancas frases de graça, pelas quais sou servil
Boca encantante onde ressoa a manhã
Ri nesta sorte que propõe que amemos
Pássaros e graças – e que é ninho de delícias

Dança o paraíso debutante em bom momento
Encerrando no busto o balanço de versos nus
Pousadas, reposteiros, alcovas de confessos sangues,
Macias coxas infantes, porém cheias de maré
Que te assustas com o ato novo e ardente
E rebrilhas deslumbrada em tua secreta cama

Ao som murmurante das desveladas entregas
Flutuas semelhante aos hinos que alvorecem
Tal como o apreço das noivas flagrantes
Menina amanhecida aos ecos da cadência nua
Rica boca pura, de carnalidades inocente,
Que do ventre fecundo palpitante estua.

As rosas da manhã ofertam carnais segredos
Despidas da marca dos orgasmos antigos
Estremecimentos deliciam delirantemente castos
O conhecido desconhecido ante o qual tem medos
Move rios e abraça montes a pura graça
Esquecida, desdenhada da volúpia e da desgraça

Para lembrar-me de ti sempre estremecimentos brandos
Aflorarão o suave recesso das memórias
Entre gozos de paz ou crus ressentimentos miserandos
Lembrar-me da pureza imácula a pétala de glórias
E ao som da lua quebrada nos riachos
Amar amores novos sob os teus mais baixos

Emana do teu reino azul flores formosas
Ensaia o gesto de pudor das margaridas
Para o sábio Mefistófeles transfeito em faustos
Rico Ventre, retardemos a hora da partida,
Que após a arca dos gozos entreabrir mil mundos
Faz a alma nobre e a terra humana apetecida.

06/08/1999




Soneto de Amor no Século XXI


Oh tu que tens nos olhos o negro da noite escura
Cheia de mistérios, cheia de doçura
Apraz perder-me em teu corpo, encarnação da lua
Apraz achar-me em tua alma, porque te traz ventura.

Um dia, molemente recostado a tua sombra
Vou excruciar teu ser de prazer junto a alfombra
O amor é infinito, não tens um medo sequer
Belas, há outras, nenhuma é mais mulher.

Se uma parte nossa se velasse, sinto
Que seria belo como um véu no infinito
E teria o chiste afável da alegria

Que torna o mundo real melhor que a fantasia
E por capricho, e para completar o soneto,
Como o amor torna um século obsoleto!




Os Inocentes


Ninguém vos conjurou esse segredo
Sois todos inocentes, todos puros
Que vos ama a esperança e teme o medo
E vos anseiam os lírios do futuro.

Sediciados pela ronda costumeira
Do prazer na ébria lucidez
O riso espesso de paixão e languidês
Qual do perfume a voz aventureira.

Adorais a infâmia, pescais sem consciência
Exibindo n’alva cutis da vivência
As “astutas” medalhas do cataclismo

Crianças inclinadas ao horror do abismo
Que brincais de crimes e fingis demência
Inocentes da imácula inocência.




Suave Maio


Deixa maio desatar seus cantos
Em flor, suspirar a doce aragem
Peregrina, pelos castelos dos encantos
Nos albergues segredados da ramagem
Esquecer-se longamente aos raios
Mansos da harpa do poente terno
Entre as copas de verdores derramada
Em tremular de pombas quietas
Dolentes fragmentos de asas
Que sonorizam pelo ermo
O ar em torno apaziguado.

A última estrela suspira o canto
Prelúdio das veludosas noites
Onde a lua alerta os desmaios
Os suspiros de amor da madrugada
Oh deixa a lua sonhar seu canto
Entre o verdor das intimas ramadas
Quando a negra serenata do encanto
Dorme ao relento e segreda a alvorada
Dos íntimos presságios e misteriosos lidos
Continentes da longa treva enamorada
A longa noite transfigurada.

Deixa maio constelar de encantos
A face de suspiros iluminada
E deslizar a horda de seus cantos
Pela boca de luares delicada
Maio é o dançarino em flama enfeitiçada
Roça suavemente os rosais do alento
Bóia leve na hora apaixonada.




Os Jardins de Eva

I – O Reino e as Dominações


Fitava Eva indolente os seus jardins
Devaneando volúpias perfumosas
A alegre graça dos sabores afins
A professar sobre o divã das rosas.

Pagens, devotos carnais ou querubins
Enchendo o silêncio de ecos maviosos
Imitavam domadores langorosos
Servindo a fera com carícias e assins.

A bela espreguiçou sobre os despojos
E tão rica, sofreu sua atroz miséria,
Destino fatal dos seres desejosos.

Entre risos dados fácil fez-se séria
Toda essa paixão, homens sediciosos,
Nem sempre vale paraísos amorosos

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Crescer em agito e ruído útil
E outro tanto crescer em vida fútil
Ser independente, e ir pela cidade
E ir também entre a mulheridade
Que teria ao meu dispor em suas tabas

Caminhar bem neste mundo das diabas
Onde tudo é sacanagem, safadeza e apego
Incluído aí talvez o meu amor maior
Ou mesmo minha malícia, que é menor,
Um mar de guerra e um ponto de sossego

Eu partirei: desprezo o quimérico medo, e ousado
Eu chegarei a esse mundo de mil curvas sinuosas
Com meu traje de ocasião composto em nu e rosas
E de vós serei o acompanhante e o acompanhado

Aos meus olhares poderosos, meus assomos
Gozarei em nossos olhos, ah! amores...
Eu vos amarei sempre assim, loucas flores
A estancar a loucura do pranto e seus pomos,
Em nossos risos desatados pelo vento

E se houver do merecimento aquela lei,
Um amante tão igual a quem me ama
Serei, enquanto a luz conserve a chama,
E de vós conforme, em pedra, lírio lento
Ou memória perenal me tornarei.




Enternecido Oásis


A calma intensa que afaga o paraíso
Qual na tarde imensa a brisa suave
Fazem da vida o ninho e do ser a ave
Como se nenhum outro bem fora preciso

Cessa a cobiça, no ventre rico dos poentes
Dorme o pranto, o infinito toma a alma
Belo o ar e o sol de viva palma
Natureza, manancial de paraísos contundentes

Goza a ventura presente o peito generoso
Qual do extenso mar o ardor sereno
Que ao sol banha o libertário gozo
E ao luar desnuda o espelho ameno.

Sei as plumas mais suaves da benção
E do amor nu o oásis de sublime rito
Morro e renasço no mistério infinito
Espargindo hinos na pátria do coração

Tal como o belo som da natureza
Que afaga em confissão as praias transparentes
Meu peito é um destino, arca da beleza,
Onde acontecem musas e fatos transcedentes.

Ou sobretudo o devoto seio opulento
Daquela que amo e que nos faz viver,
Calma, benção, mistério, sentimento,
Universo de amor, afirmação do ser.



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Distribui amor


Distribui amor a luz sublime
Entre todos os seres bem supremo
Cujo albergue soberano de afetos
Em doce paz conforta e redime

Sente-o em teu ser, pulsação plena
Que em gratas ondas de anelo anima
Com espiritual inspiração divina
Amor de jubilo que tudo invade

Abençoado éter de sagrada chama
Bela forma de perfeição e alento
Da-me a mão, bondoso contentamento
Vivo! Sinto-o agora no peito

Corajoso mensageiro da aliança
Lúcido entendedor e nunca cego
De um lance os altos céus descerra
De par em par os portais venturosos

Gera a compreensão nobre do afeto
Coroa de eternidade grata o suceder
Dos anos transitórios, vinga de bênçãos,
Edifica a saga do tempo com firmeza

Tudo expressa em sons cheios, claros
A lira doa amor, de mérito argumento
Coroada de valor firme e brando trato
Honestidade e benefício.

Sincero esparja em doce confissão
Amor, um bem que a fonte cara torna
Com oferenda semelhante à flor
Quando pelos campos a messe desabrocha

Para multiplicar-se a fonte torna
Quão formosos és, canto de amores
Fecundado de liras e mistérios
Encerrando no escrínio altos impérios

Esperança, mãe parteira do sonho;
Deus do humano, encontro essencial;
Farol de alento, perene manancial;
Nau que rege a sorte e as marés;

Entrega-te a amor, se humana és
Devoto escravo triunfal dos seus cuidados
Que terás todos os reinos dominados
Que sem amor tuas misérias és

Decanta amor a ouvidos amorosos
Prospera nos corações e lares faz
Amor, regedor do bem, que tudo podes
Consorcia-te à nobreza audaz.
Doces elos invisíveis os entes afeiçoam
Com brandura ânimos enternecem
Sem jogar, os ganhadores presenteiam
Sábios de que por sua riqueza todos merecem

A sinceridade a gratidão flori no seio
Espontâneos rios que inspiram alvoradas
Irresistível sedução de puro anseio
Vaga pelo albergue caro das tramas perfumadas
As horas, palacetes do infinito
Dormem no peito, o alentam em segredo
Benévolo e reto da esperança
Farol triunfal enchameia as ondas ledas




Adubo de luz

Redenção do augusto conhecimento amoroso
Conduz o povo destinado à imensidade
Forte para liberdade, audaz para o beneficio
Com a coragem do coração e o acerto da verdade
Nobreza que aos bons caminhos e frutos sãos
Conduzes a grandeza pelos montes despertada
A quem tudo se adora com louvores malsãos.

Rios de volúpia quando no amor deságuam
Cumplicidade do ato que grava a eternidade
Aconchego de mil mundos nus, posto em segredo



As Idéias


Volve à Pátria dos sagrados assomos
Oh ardente ser como os espaços pleno
Ecoa as fulgentes esferas na luz, arrebatado
Enreda os mundos em amoroso canto
Que as tens perenes de harmonia urdidos
E em ternos alazões sensuais libertos

Augusta paz, os lumes da existência purifica,
Nestes ermos floridos de intimas lembranças
Onde apraz entre encantos colher as esperanças
Renovar os ternos júbilos em hinos comovidos

As bocas são rastros de oboés de opala
Cancionetantes safiras, pássaros de alvoradas,
Quando as horas se debruçam enamoradas
E o fresco hálito dos infinitos resvala
Temos de amor motivos envolventes
Assombros de paixão, aquarelas da existência
Onde as harpas do afeto colhem transcendência
E volúpias segredadas, deusas contundentes
Onde, quer entre fontes, riachos, rios caudalosos
Inebriados arrulhos das pombas do oceano
As asas do tempo são templos sagrados
O coração e a beleza divinais arcanos
Ouve, oh espírito, o rumor dos sois enamorados
Resvalando nas cândidas ancas de acesas luas
Alteia um som consorte em beijos enlaçados
Bebe a compreensão, a paz o amor das flores nuas.

E esses equívocos valores errôneos e confusos
De que se defende a sociedade em vãos delírios
Sejam superados aos êxtases clarões profusos
No cardume das caricias e procissões de lírios
Nos difusos cânticos das arcas apaixonadas
Qual multidões de rolas libérrimas, e amadas
Razões sentimentais, que esvoaçais ao léu,
Que acendem os enamorados no camping do céu.

Mas para que o archote melhor brilhe, comovido
E nas balsas expandido e entretido entre ermos
Unge-te amante dos palácios dos sentidos
Abandonando os caprinos urros enfermos.
Ou antes, atira-te as profusas aventuras
Ao corrente cascatear das vagas sucessivas
Ao gosto do século pagão das sensitivas
Feroz êxtase, em delitos modelados
Na ânsia de viver em gozos numerosos
Vive a procura quem desconhece os portos sagrados
E quem em peregrinas harmonias não se esquece.

Oh! Canção! Aos altamados portais afeiçoada
Alimentada de monumentais celestialidades
As supremas paragens do céu como são frias
Se não gozais sofregamente ardentias,
E paixões humanas em redomas perfumadas.




Elegia Bucólica


Vozes íntimas que estalais da Veiga
Buquê de memórias dos instantes caros
Transbordai do coração na estância meiga
Na essência tranqüila dos perfumes raros
Que trescalam as efusões dos êxtases perfeitos

Claro céu, espelho dos sublimes remansos,
Rede de albergais o hino e o pejo,
Dolentes são os castos encantos
Sem busca de falos ou curvas de beijo
Em inocência descanse, pois ante o santuário

No regaço redentor, regenerador da natureza,
Sem passado e sem futuro mergulha o presente
Imensos são os glaucos hinos sossegados
Boiando a flor da amplidão suspensa
Ecoam suavemente na grata alma
De clarões e de amplas calmarias expandido

Sinto o calado rumorejar dos ares
O intimista perfume dos segredos
As aves que aportam sonorosas
Os acordes violoncelados das esferas

Violoncelos ao luar e a tua boca
Sob parreirais ou carramanchões extáticos
Pouco importa a hora, é de infinito
O êxtase dos pardais voa no peito ilimitado
As ternuras com os verdes ramos se entrelaçam

O bálsamo da manhã como tem ternuras
Como se exalta em perfeições lânguida a tarde
O poente nos envolve em sangues de confissões
E a noite em remansos de estrelas adormece
Embalando no seio o criador generoso
E a grata criatura, extasiada de sua essência.

Pede o feliz anjo que o mundo tumultuoso
Ao berço dos esplendores se assemelhe
Que flua manso qual terno regato
Que com os corcéis da alvorada se emparelhe
Bocas, alentai-vos nos êxtases sagrados
Hinos, esvoçai ondeantes de comovidos olhos
E vós instantes, sê intimamente amados
Nos castelos ideais de lânguidos desvelos

A natureza, essa mulher serena e augusta
A todos os filhos bendita em paz acolhe
Transbordam de sua vasta alma generosa
Cardumes de alentos, formosas belezas,
Insuperáveis consolos aos humanos tormentos

Tudo em seu plácido albergue são contentamentos
Sereníssimas vozes de luz e paraísos
Qual a caricia grata dos sorrisos
Qual o mimoso enredo dos aromas
São as veigas de esmeralda, os ares de diamante.

domingo, 6 de abril de 2008

O Amor e o Ouro

Asas plenas, rumemos ao encontro,
É participação, celebrando o momento
Eleva-se ao azul o lírico pensamento
Segreda aos astros as razões de amar
E gera o sentimento, em cujo ímo santo
É a esfera um hino de suave acalanto
O vivedor navega em intermezzo de paz
No templo do amor, quando a liberdade apraz.

O amor redime desde o melhor ao mais vil
Cantam, infundem loas as celestes harmonias
Encharmescidas ondas de alvas erradias
Esculpem a aurora no reflexo do luar
Une pares e povo, compõe banquetes, festas
Afasta para o caos as hordas funestas
Das lamentações, em seu manto tece
Perpétua luz que em júbilos amanhece.

Escravos das paixões, querem os homens reinar;
O que soa-lhes o ouro com voz melosa e macia?
- “Abro-te o arcano dos mundos, a arca erradia
Dos prazeres contundentes de ter!” Ele evoca
A felicidade da posse, augusta calmaria
Por onde a segurança confortos alicia
Ele vence as consciências em dourado matiz
A necessidade gera e ao mendigo maldiz.

Na densa treva anseiam os seres a luz
O amor promove à claridade mundos
Êxtases primaveris, prazeres tão jucundos
Afasta para longe de ti o severo juiz
Que profana o templo sacro das segundos
Com seus escarros insanos, absurdos
Voa no amor e no ouro, consorciados
Tornando os instantes líricos e sagrados.

A Sabedoria da Bondade

Os homens não se pertencem; ninguém doma o destino
Esforçado para tal, luta o mais hábil de todos
Em vão, são obscuros os ditados da sorte
Desde o berço estamos marcados: esse nasce
Na abastança, aquele outro na miséria
E no transcurso do tempo casos e acasos
Forjam o mundo de cada um; oh tu
Rico ou pobre, belo ou feio, sê sábio!
Pratica o bem, nunca leses ninguém; hoje
Ou amanhã, vindo do profundo mistério
Chega o dia das lamentações, e se sorris
Deves agradecer: sê bondoso, tem piedade
E sê compassivo: aborta o teu ódio atroz
Deserda a vingança, não leves tão a sério
A ofensa, poupa o velho e a criança, o adulto
Não te julgues tão senhor da dita ao ponto
De seres intocável do revés, não desprezes
O que tem sorte pior; em vão adulas o ouro
Ou és dele o escolhido; a maldade cavalga
A sombra do imperador, o oculto inimigo
Não quer ver ninguém bem, ele exulta em
Fazer o mal, aborrece-o teu sorriso
Ele odeia a tua ventura e labuta
No dano teu – vindo da quimera e do capricho
Escuto retinir no solo o negro corcel da mágoa
Que conduz o espectro do rancor à ação medonha:
Se estes vilões do dolo serão um dia punidos
Após a morte talvez, quem o sabe? Eles forjam
O dano ao culpado e ao inocente, sem distinguir...
Se este te fere; como reconhecer com alegre
Volúpia, aquele que te oferta a amizade ou
Ou o amor, ou o prazer? Como saber da aurora
Do dia desejado!? Quem pode deter a tétrica cavalgada
Do mal, e albergar o bem em sua doce cota?
Qual agraciado pode ser ileso a dor, ou
Qual mendigo não pode ganhar na loteria, ou
Ainda, qual o mortal que sabe do amanhã;
Futuro, denso mistério, portal obscuro!
Mortal, paga-te desde já com tua bondade!!

O Sonho de Reinar

O sonho de reinar, capricho sério
Ignora o império do aqui presente
No claro céu azul o esplendor etéreo
O mundo a verdejar no bosque: a mente
Constrói castelos, quer os portais abertos
Donde voem audazes desejos secretos.

Além, a quimera canta sua ária veludosa
Doura o momento de amplos poderes,
Não te basta a rosa colher dos seres
Ou o pitoresco alarde da venal mariposa?
Não; é preciso singrar além do possível
O muro fere o ideal, ave sensível.

Não vive o mundo da trama dos sonhos
Antes, convulso, só tem espinho e peçonhos
Latego cruel espanca a fada noturna
Cujos feitiços tecem paraísos risonhos
Mas eis que surge a saga humana diurna
E a esperança se abate em grotesca furna.

Um vendaval soturno envolve a luta
E a incerteza tece, em voz cava e astuta
A lei do cão que forja o gesto atroz
Tanto sonho dourado morre sem voz
Tanto mágico enleio sucumbe na garganta
Do reino cruento, do reino feroz.

Um mundo ideal é a abundancia, até
Ser provada em osso, seu rei, seus dilemas!
Cada classe possui seus próprios problemas
Cada face da vida que sorri é
Contraface a uma dor, cujos emblemas
Oculta a dor velada, e do inferno a fé!

Clamores do sangue das manhãs

Os estandartes do sol em glória altiva
Reverberam pelas urnas do espaço
Um clamor de ouro, pompa de aço
Voa na tarde esplendorosa e volitiva.

A crista de cristal abre lírica crisálida
Soa suavemente o missal do peregrino
Incerta é a saga, a sanha do destino
Amorosa a esfera da mulher, ardente ou pálida.

Nunca se exaure do mundo a maravilha
Sagra-a alegremente a voz do ermo em festa
Vozes de opala e rubi na lira da orquestra
Tecem a grande prece da manhã tranqüila.

Quer o mundo em ondas loucas de desejo
Pulsa-lhe a artéria, voa-lhe a voz em silvo
Todo um sensual alarde clamoroso e vivo
Ascende na harpa eclética do beijo.

É o momento, arca aberta ao entusiasmo
Que esculpe a prece de flor no seio aceso
E sua luta, que nunca deixa o mortal ileso
Aos anjos mais clementes causa assombro e pasmo.

Vibre agora à tarde em pompa de asa
Cante o jogral o seu lirismo aceso
Esculpe a terra seu paroxismo teso
Sobre a guerra macabra e louca brasa.

Não se extinguirá dos astros a harmonia
Sobre as pontes do acaso em asa seleta
A vida almeja a aurora lúcida e concreta
Sobre a palheta do caos e sua adaga sombria.

Os estandartes do sol em glória altiva
Reverberam pelas urnas do espaço
Um clamor de ouro, pompa de aço
Voa na tarde esplendorosa e volitiva.

A crista de cristal abre lírica crisálida
Soa suavemente o missal do peregrino
Incerta é a saga, a sanha do destino
Amorosa a esfera da mulher, ardente ou pálida.

Nunca se exaure do mundo a maravilha
Sagra-a alegremente a voz do ermo em festa
Vozes de opala e rubi na lira da orquestra
Tecem a grande prece da manhã tranqüila.

Quer o mundo em ondas loucas de desejo
Pulsa-lhe a artéria, voa-lhe a voz em silvo
Todo um sensual alarde clamoroso e vivo
Ascende na harpa eclética do beijo.

É o momento, arca aberta ao entusiasmo
Que esculpe a prece de flor no seio aceso
E sua luta, que nunca deixa o mortal ileso
Aos anjos mais clementes causa assombro e pasmo.

Vibre agora à tarde em pompa de asa
Cante o jogral o seu lirismo aceso
Esculpe a terra seu paroxismo teso
Sobre a guerra macabra e louca brasa.

Não se extinguirá dos astros a harmonia
Sobre as pontes do acaso em asa seleta
A vida almeja a aurora lúcida e concreta
Sobre a palheta do caos e sua adaga sombria.

Sono Deleitoso

Da noite o perfume afaga-me os sentidos
Suave brisa ante os delírios noturnos dança
Eu que da orgia abandonei as esperanças
E alberguei a lírica paz dos entes comovidos.

Talvez agora em seus hinos mais decaídos
Cante a orgia, dançarina de sensuais nuanças
Ou a escultura louca cavalgue as andanças
De um cavaleiro de dinheiros e brocados.

A mim cabe a calma clamorosa da vaga
Treva doce e cadente, o verso esculpido,
Aurora de veludo ou vingança de adaga.

O templo do alto amor me foi oferecido
Pelos filtros celestiais de oferecida maga
E durmo em seus braços a tempo falido.

Dia Glorioso

A glória sem par do azul ébrio de sol
Cantarola alegre pelas rútilas asas do dia
Exclama em meio ao pranto uma harmonia
Que aos uivos da noite dê guarida e farol.

Amanhece o mundo em seu lírico crisol
Supondo aurora a humanidade; a erradia
Vontade de singrar, ergue a flama vadia
Constelando de delírios a saga do arrebol.

São preces que a dor soturna e seus nuances
Nunca albergarão; idílicos romances
Capazes de converter a mágoa em hosana.

Goza o espaço toda uma unção de hinos
Que sobre a saga transitória dos destinos
Inunda de júbilo as preces de quem ama.

O impossível Ideal

Covarde e cruel, o inimigo que te punge
Antro de orgulho ante a cadência do azul
Cujo riso é como a prostituta que finge
Decifra essa esfinge e seu fatal paúl!

Humanidade, de asas curtas, restringe
O largo sonho de um albergue do sul
A ampulheta do tempo, que cinge
A tumba do espaço em hibernal friúl.

Quiséramos um reino, algum principado
Talvez, que afogue o orgulho cruel
Que converte em privações o mel.

E aborto o prêmio da sorte! É pecado
Amar? Essa é a razão cujo fel
As eras do amor tem em pranto tornado.

O Limite do Verbo

Ao som pomposo o verbo mente
Ornado de mil galas, decanta essências
Cravados no cerne mesmo das vivências
Como se fosse novela a vida latente

A pulsar, e o altanado verbo eloqüente
Um resumo das mais sutis experiências
Um retrato de lucidez e de demências
Em ritmo exato, rimado, cadente

Pode a estirpe de Vênus caber no medido
Porte do verso, e a pugilista sociedade?
O eterno escapa do instante aguerrido

O momento de ouro por harpas tangido
Não reflete o vasto mar da humanidade
Pago infindo de exuberante variedade.

A Messe Gratuita

Palmo por palmo luta o vivedor
Mas o ouro das tardes nada lhe custa
Batalha atroz, ave de garra adusta
Necessitado da matéria e do sublime amor

Tenha as constelações líricas a seu favor
O sol que os astros menestréis ofusca
A reviravolta da incerteza lhe é brusca
E o destino nem sempre está a seu dispor

Lute ignorando as claras leis dos anjos
Em estrídulo feroz, em egoísticos arranjos
Sua alma lembra-lhe a origem divina

Alma que cantas na catedral dos arcanjos
Que sobrepuja os temporais, peregrina...
E se eleva sobre acaso e percalços da sina

Esperança de Amor

Esperança de amor que me tens composto
Altivo quadro onde ridentes rosas
Incitam as auroras líricas, formosas...
E o bando dos corcéis sobre o luar de Agosto

Mata essa mágoa acerba, cujo desgosto
Fere a canção do caos, dura, extremosa,
Perfaz em benção a esfera dadivosa
Que entretém os amantes com suave gosto

Só de esperança e de deslumbre de beleza
É composta a mansão do lírico abandono
Que assim comove de esplendor a natureza

Mas a incerteza mata o tempo, traz o dano
E onde se supunha mais indômita correnteza
Mora um orgulho acerbo, desumano.

O Inimigo

Adaga oculta em flores, eis o inimigo,
A voz acaricia e o gesto oculto fere
Monstro de acerbas garras, teu perigo
É a turbação que ao cauto onere

Alegre ante os suplícios de um jazigo
Onde a própria altivez se desespere
Impondo o teu veneno ao puro figo
E o ósculo de amor que o verão tempere

Na lei do ódio tem empenho
Por mais que o rival então lhe ria
Adagas tem afiadas de cruel engenho

Converte, oh tempo, o mal em cinza fria...
Que em danos desse lobo à juventude tenho
Mas faz que raie mais serena a cotovia.

Soneto das Compensações

Se o mundo é um palácio de degredo
E a carne uma alvorada turva e fria
E a mágoa cavalga a vingança sómbria
E nos arrebata o alto prêmio o medo,

Crê nesta manhã que a juventude promete
A dor em lírios virginais de amor converte
Propõe um nobre zelo aos caros anos
São valorosos os afetos esculpidos soberanos

Suave lira um som de amor em rosas verte
Congratula-te a colher essa passagem de anos
A messe tem os seres mais exigentes comovido

Seu germe de flor os outonos acaricia
Veste de lua a primavera louca erradia
E aos mais raros desejos traz doce partido.

O Domador do Mundo

O ouro torna doce a adaga do momento
Suavemente o ímpeto realiza e consola
Encerra a alta harmonia que azul evola
A gama do diamante, o matiz do sentimento

O ouro torna plenas as asas do sedento
Desejo humano e o seu afago controla...
A dor das dores, e sua sublime esmola...
Nos astros do esplendor põe paz, memento,

O ouro afaga a tarde e a purifica
Esculpe aurora esplendorosa, rica
Na morte devassa a raiar sobre o cais

Bom na desgraça e bom nos carnavais
O ouro forja a sua verdade e fica
Domando o mundo em hinos sensuais.

A dor da solidão

Palácio de degredo e de procela
A dor da solidão fere o azul
Firmamento e o gosto prenhe de sul
Que os sensuais corcéis desatrela.

É a magoa de ausente que descabela,
É um vulcão em hibernal friúl,
Um masturbante doente de paúl
Que alucina e em mortes reverbera.

Roeis o crânio em vácuo fundo, atroz
Impões o ardor ao nada mais feroz
Compões de nada o coração sombrio

E entre as esperanças sentís frio
Sonhais em casto leito amor algoz
Chorais sem que ninguém escute a voz.

Doçura Noturna

Segredos de violão cortam o silêncio
Na penumbra, pétala doce murmura a rosa
O amor carnal compõe a voz da mariposa
Assim como floresce o cálice de incenso.

Sagra um soneto de murmúrio o senso
Da guitarra mulher reverberando, ousa
Compor de lua e amor à voz mimosa
Castelo de delírios sobre o tempo penso.

Em fofas sombras canta a celeste lira
Um hino de escultura que delira
Nos reposteiros do luar das cordas

Ela transfigura a dor da criatura
Em suave bálsamo que amor suspira
E assim impõe um lírio às carnais hordas.

quarta-feira, 2 de abril de 2008

Soneto da Antítese

Prezados sonhos de Don Juan sonhei na treva
Entre a dor pungente do abismo que neva
E a gula devassa das musas do lupanar
Cujo anseio nu de amor espancava o luar.

Um tempo horrendo de desejos a flutuar
Enquanto a aurora era dor a se assombrar
E o ócio noturno, temperando com versos
Gelava unilateralmente os lírios dos universos.

Hoje as manhãs são confidenciais ternas
Vozes do ermo em solidões eternas
Propõe amores ao umbigo e leis

Suavizadas em estâncias ermas
Nada de dores e mortes enfermas
Júbilos dos sóis e poentes de reis.

Compensação

Para consolar o cancro e afogar a dor
Eis que floresce a nobre lei do amor
Ela torna alto o que era degredo
Esculpe uma sonata de veludo no enredo

Nada mais grato à gula do vivido
Nem mesmo o ouro lhe iguala o calor
O seu pudor expõe o céu a medo
Enquanto o reposteiro alberga azul segredo

Consola, balsamo santo, e equilibra
Toda essa esfera de pugilatos que vibra
Quando o ouro submete os homens maus

Acima da luta e sua adaga rubra
O amor amores celestes nos calibra
E doma o destino e o incerto caos.

O Tesouro Amoroso

Amor uma alvorada na rosa dos anos
Esculpe de cálido orvalho e gesto ardente
Cuja manhã entre lírios sorri inocente
Sobre o pego do fel e os rudes desenganos

Desenha gestos brandos em cálices maganos
Expõe de louros o verbo eloqüente
Inunda de delírios a carne suavemente
Compõe a fresca luz dos líricos arcanos

Que não nos falte sua dádiva candente
Sua mansão de afetos tão ufanos
E gozos entre noites de corcéis soberanos

Que é o primor supremo entre a gente
O amor, cujo verso de efluvio celeste
Rege a ventura dos destinos humanos

O Ouro Sedutor

Seduz-nos a pompa altiva do ouro
Cuja efusão confere a vida nobre apreço
Dos prazeres e das alegrias o endereço
É o bolso, digo-o sem nenhum desdouro.

O metal que liberta é o astro louro
O senhor que escraviza, cujo preço
Entre as belezas sorridentes reconheço
A estremecer o mais intimo foro.

Terrível desgraça do povo carcomido
Domador do destino, deus fundido
Forjado em papel, irrevogável sentença

A uns poucos abres asas infinitas
E prostras as humanidades aflitas
Alem dos ecos da inefável contingência.

Eflúvios Da Carne

A tua carne sorri luar de rosas
Propala a essência dos misteriosos
Hinos noturnos, mel de musselinosas
Urnas de harpas e oboés felinosos

Ao toque das orgíacas mariposas
Estremeço de hinos langorosos
Tu és cardume de alegrias, ousas
Despertar os tigres da paixão ruidosos

A carne sabe todo luar que emana
Do perfume do olhar a altiva chama
Guarda os notívagos becos enluarados

Em tua boca, em tua pele, em tuas ancas
Cantam as alvas das luxúrias francas
Dançam os líricos êxtases sagrados.

Alvorada Sentimental

Uma alvorada de sutís carinhos
Pelos poros da emoção surge cantando
Como uma opala a constelar os ninhos
Dos afetos liriais que vem chamando.

É toda a festa e glória dos arminhos
Toda ternura do momento brando
A pomba sensual que doura caminhos
E vai os astros em harmonia sofejando.

Descem os astros do firmamento, altivos
Expõe a franca glória dos teus beijos
Em harpejos de estremecimentos vivos

E a esfera toda se comove em rumorejos
Ecos de musa e hábeis jograis lascivos
Em prestativos bardos de aconchegos.

Noite Transfigurada

Na frescura lirial da noite enluarada
Soa dos ledos amantes a ardente alvorada
Todo o palácio se converte em alta festa
Que as orgias dos amores sacros manifesta.

Cantam as pombas da luxúria consagrada
Aos pardais dos afetos tesos da morada
Um hino cujo lírico esplendor manifesta
O céu de gozo que o celeste amor atesta.

Noturnidades de anjos e de lírios
Opalas doces pelos parques dos delírios
Aves, que o coração torna sedentas.

Dos astros soam nas leis celestiais
Vão transfigurando os êxtases carnais
Em carnavais auroras tesas, lentas.