quinta-feira, 17 de abril de 2008

Caso do Sempre


Por vires do sonhado amor antigo
Que a sombra de ti esperava dormindo
Terei pra ti eternamente abrigo
Carícia ideal e afã comovido.

Por seres esse ideal de ventura
Sendo tu quem és, de amor na palestra,
A distância mudares em ternura
Que o desejo de encontro manifesta.

Por essa realidade da criatura
Sempre amada, eu e tu, muito a sós,
E por outras talvez mais ignotas...

Caso de amor! Espelho de luz pura!
Eu rasgarei a vida em tiras rotas
Na hora que tudo se acabe entre nós.




Rico Ventre Puro


Rico ventre que jamais me parirá
Seios opulentos que na paz alento
Brancas frases de graça, pelas quais sou servil
Boca encantante onde ressoa a manhã
Ri nesta sorte que propõe que amemos
Pássaros e graças – e que é ninho de delícias

Dança o paraíso debutante em bom momento
Encerrando no busto o balanço de versos nus
Pousadas, reposteiros, alcovas de confessos sangues,
Macias coxas infantes, porém cheias de maré
Que te assustas com o ato novo e ardente
E rebrilhas deslumbrada em tua secreta cama

Ao som murmurante das desveladas entregas
Flutuas semelhante aos hinos que alvorecem
Tal como o apreço das noivas flagrantes
Menina amanhecida aos ecos da cadência nua
Rica boca pura, de carnalidades inocente,
Que do ventre fecundo palpitante estua.

As rosas da manhã ofertam carnais segredos
Despidas da marca dos orgasmos antigos
Estremecimentos deliciam delirantemente castos
O conhecido desconhecido ante o qual tem medos
Move rios e abraça montes a pura graça
Esquecida, desdenhada da volúpia e da desgraça

Para lembrar-me de ti sempre estremecimentos brandos
Aflorarão o suave recesso das memórias
Entre gozos de paz ou crus ressentimentos miserandos
Lembrar-me da pureza imácula a pétala de glórias
E ao som da lua quebrada nos riachos
Amar amores novos sob os teus mais baixos

Emana do teu reino azul flores formosas
Ensaia o gesto de pudor das margaridas
Para o sábio Mefistófeles transfeito em faustos
Rico Ventre, retardemos a hora da partida,
Que após a arca dos gozos entreabrir mil mundos
Faz a alma nobre e a terra humana apetecida.

06/08/1999




Soneto de Amor no Século XXI


Oh tu que tens nos olhos o negro da noite escura
Cheia de mistérios, cheia de doçura
Apraz perder-me em teu corpo, encarnação da lua
Apraz achar-me em tua alma, porque te traz ventura.

Um dia, molemente recostado a tua sombra
Vou excruciar teu ser de prazer junto a alfombra
O amor é infinito, não tens um medo sequer
Belas, há outras, nenhuma é mais mulher.

Se uma parte nossa se velasse, sinto
Que seria belo como um véu no infinito
E teria o chiste afável da alegria

Que torna o mundo real melhor que a fantasia
E por capricho, e para completar o soneto,
Como o amor torna um século obsoleto!




Os Inocentes


Ninguém vos conjurou esse segredo
Sois todos inocentes, todos puros
Que vos ama a esperança e teme o medo
E vos anseiam os lírios do futuro.

Sediciados pela ronda costumeira
Do prazer na ébria lucidez
O riso espesso de paixão e languidês
Qual do perfume a voz aventureira.

Adorais a infâmia, pescais sem consciência
Exibindo n’alva cutis da vivência
As “astutas” medalhas do cataclismo

Crianças inclinadas ao horror do abismo
Que brincais de crimes e fingis demência
Inocentes da imácula inocência.




Suave Maio


Deixa maio desatar seus cantos
Em flor, suspirar a doce aragem
Peregrina, pelos castelos dos encantos
Nos albergues segredados da ramagem
Esquecer-se longamente aos raios
Mansos da harpa do poente terno
Entre as copas de verdores derramada
Em tremular de pombas quietas
Dolentes fragmentos de asas
Que sonorizam pelo ermo
O ar em torno apaziguado.

A última estrela suspira o canto
Prelúdio das veludosas noites
Onde a lua alerta os desmaios
Os suspiros de amor da madrugada
Oh deixa a lua sonhar seu canto
Entre o verdor das intimas ramadas
Quando a negra serenata do encanto
Dorme ao relento e segreda a alvorada
Dos íntimos presságios e misteriosos lidos
Continentes da longa treva enamorada
A longa noite transfigurada.

Deixa maio constelar de encantos
A face de suspiros iluminada
E deslizar a horda de seus cantos
Pela boca de luares delicada
Maio é o dançarino em flama enfeitiçada
Roça suavemente os rosais do alento
Bóia leve na hora apaixonada.




Os Jardins de Eva

I – O Reino e as Dominações


Fitava Eva indolente os seus jardins
Devaneando volúpias perfumosas
A alegre graça dos sabores afins
A professar sobre o divã das rosas.

Pagens, devotos carnais ou querubins
Enchendo o silêncio de ecos maviosos
Imitavam domadores langorosos
Servindo a fera com carícias e assins.

A bela espreguiçou sobre os despojos
E tão rica, sofreu sua atroz miséria,
Destino fatal dos seres desejosos.

Entre risos dados fácil fez-se séria
Toda essa paixão, homens sediciosos,
Nem sempre vale paraísos amorosos

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Crescer em agito e ruído útil
E outro tanto crescer em vida fútil
Ser independente, e ir pela cidade
E ir também entre a mulheridade
Que teria ao meu dispor em suas tabas

Caminhar bem neste mundo das diabas
Onde tudo é sacanagem, safadeza e apego
Incluído aí talvez o meu amor maior
Ou mesmo minha malícia, que é menor,
Um mar de guerra e um ponto de sossego

Eu partirei: desprezo o quimérico medo, e ousado
Eu chegarei a esse mundo de mil curvas sinuosas
Com meu traje de ocasião composto em nu e rosas
E de vós serei o acompanhante e o acompanhado

Aos meus olhares poderosos, meus assomos
Gozarei em nossos olhos, ah! amores...
Eu vos amarei sempre assim, loucas flores
A estancar a loucura do pranto e seus pomos,
Em nossos risos desatados pelo vento

E se houver do merecimento aquela lei,
Um amante tão igual a quem me ama
Serei, enquanto a luz conserve a chama,
E de vós conforme, em pedra, lírio lento
Ou memória perenal me tornarei.




Enternecido Oásis


A calma intensa que afaga o paraíso
Qual na tarde imensa a brisa suave
Fazem da vida o ninho e do ser a ave
Como se nenhum outro bem fora preciso

Cessa a cobiça, no ventre rico dos poentes
Dorme o pranto, o infinito toma a alma
Belo o ar e o sol de viva palma
Natureza, manancial de paraísos contundentes

Goza a ventura presente o peito generoso
Qual do extenso mar o ardor sereno
Que ao sol banha o libertário gozo
E ao luar desnuda o espelho ameno.

Sei as plumas mais suaves da benção
E do amor nu o oásis de sublime rito
Morro e renasço no mistério infinito
Espargindo hinos na pátria do coração

Tal como o belo som da natureza
Que afaga em confissão as praias transparentes
Meu peito é um destino, arca da beleza,
Onde acontecem musas e fatos transcedentes.

Ou sobretudo o devoto seio opulento
Daquela que amo e que nos faz viver,
Calma, benção, mistério, sentimento,
Universo de amor, afirmação do ser.



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Distribui amor


Distribui amor a luz sublime
Entre todos os seres bem supremo
Cujo albergue soberano de afetos
Em doce paz conforta e redime

Sente-o em teu ser, pulsação plena
Que em gratas ondas de anelo anima
Com espiritual inspiração divina
Amor de jubilo que tudo invade

Abençoado éter de sagrada chama
Bela forma de perfeição e alento
Da-me a mão, bondoso contentamento
Vivo! Sinto-o agora no peito

Corajoso mensageiro da aliança
Lúcido entendedor e nunca cego
De um lance os altos céus descerra
De par em par os portais venturosos

Gera a compreensão nobre do afeto
Coroa de eternidade grata o suceder
Dos anos transitórios, vinga de bênçãos,
Edifica a saga do tempo com firmeza

Tudo expressa em sons cheios, claros
A lira doa amor, de mérito argumento
Coroada de valor firme e brando trato
Honestidade e benefício.

Sincero esparja em doce confissão
Amor, um bem que a fonte cara torna
Com oferenda semelhante à flor
Quando pelos campos a messe desabrocha

Para multiplicar-se a fonte torna
Quão formosos és, canto de amores
Fecundado de liras e mistérios
Encerrando no escrínio altos impérios

Esperança, mãe parteira do sonho;
Deus do humano, encontro essencial;
Farol de alento, perene manancial;
Nau que rege a sorte e as marés;

Entrega-te a amor, se humana és
Devoto escravo triunfal dos seus cuidados
Que terás todos os reinos dominados
Que sem amor tuas misérias és

Decanta amor a ouvidos amorosos
Prospera nos corações e lares faz
Amor, regedor do bem, que tudo podes
Consorcia-te à nobreza audaz.
Doces elos invisíveis os entes afeiçoam
Com brandura ânimos enternecem
Sem jogar, os ganhadores presenteiam
Sábios de que por sua riqueza todos merecem

A sinceridade a gratidão flori no seio
Espontâneos rios que inspiram alvoradas
Irresistível sedução de puro anseio
Vaga pelo albergue caro das tramas perfumadas
As horas, palacetes do infinito
Dormem no peito, o alentam em segredo
Benévolo e reto da esperança
Farol triunfal enchameia as ondas ledas




Adubo de luz

Redenção do augusto conhecimento amoroso
Conduz o povo destinado à imensidade
Forte para liberdade, audaz para o beneficio
Com a coragem do coração e o acerto da verdade
Nobreza que aos bons caminhos e frutos sãos
Conduzes a grandeza pelos montes despertada
A quem tudo se adora com louvores malsãos.

Rios de volúpia quando no amor deságuam
Cumplicidade do ato que grava a eternidade
Aconchego de mil mundos nus, posto em segredo



As Idéias


Volve à Pátria dos sagrados assomos
Oh ardente ser como os espaços pleno
Ecoa as fulgentes esferas na luz, arrebatado
Enreda os mundos em amoroso canto
Que as tens perenes de harmonia urdidos
E em ternos alazões sensuais libertos

Augusta paz, os lumes da existência purifica,
Nestes ermos floridos de intimas lembranças
Onde apraz entre encantos colher as esperanças
Renovar os ternos júbilos em hinos comovidos

As bocas são rastros de oboés de opala
Cancionetantes safiras, pássaros de alvoradas,
Quando as horas se debruçam enamoradas
E o fresco hálito dos infinitos resvala
Temos de amor motivos envolventes
Assombros de paixão, aquarelas da existência
Onde as harpas do afeto colhem transcendência
E volúpias segredadas, deusas contundentes
Onde, quer entre fontes, riachos, rios caudalosos
Inebriados arrulhos das pombas do oceano
As asas do tempo são templos sagrados
O coração e a beleza divinais arcanos
Ouve, oh espírito, o rumor dos sois enamorados
Resvalando nas cândidas ancas de acesas luas
Alteia um som consorte em beijos enlaçados
Bebe a compreensão, a paz o amor das flores nuas.

E esses equívocos valores errôneos e confusos
De que se defende a sociedade em vãos delírios
Sejam superados aos êxtases clarões profusos
No cardume das caricias e procissões de lírios
Nos difusos cânticos das arcas apaixonadas
Qual multidões de rolas libérrimas, e amadas
Razões sentimentais, que esvoaçais ao léu,
Que acendem os enamorados no camping do céu.

Mas para que o archote melhor brilhe, comovido
E nas balsas expandido e entretido entre ermos
Unge-te amante dos palácios dos sentidos
Abandonando os caprinos urros enfermos.
Ou antes, atira-te as profusas aventuras
Ao corrente cascatear das vagas sucessivas
Ao gosto do século pagão das sensitivas
Feroz êxtase, em delitos modelados
Na ânsia de viver em gozos numerosos
Vive a procura quem desconhece os portos sagrados
E quem em peregrinas harmonias não se esquece.

Oh! Canção! Aos altamados portais afeiçoada
Alimentada de monumentais celestialidades
As supremas paragens do céu como são frias
Se não gozais sofregamente ardentias,
E paixões humanas em redomas perfumadas.




Elegia Bucólica


Vozes íntimas que estalais da Veiga
Buquê de memórias dos instantes caros
Transbordai do coração na estância meiga
Na essência tranqüila dos perfumes raros
Que trescalam as efusões dos êxtases perfeitos

Claro céu, espelho dos sublimes remansos,
Rede de albergais o hino e o pejo,
Dolentes são os castos encantos
Sem busca de falos ou curvas de beijo
Em inocência descanse, pois ante o santuário

No regaço redentor, regenerador da natureza,
Sem passado e sem futuro mergulha o presente
Imensos são os glaucos hinos sossegados
Boiando a flor da amplidão suspensa
Ecoam suavemente na grata alma
De clarões e de amplas calmarias expandido

Sinto o calado rumorejar dos ares
O intimista perfume dos segredos
As aves que aportam sonorosas
Os acordes violoncelados das esferas

Violoncelos ao luar e a tua boca
Sob parreirais ou carramanchões extáticos
Pouco importa a hora, é de infinito
O êxtase dos pardais voa no peito ilimitado
As ternuras com os verdes ramos se entrelaçam

O bálsamo da manhã como tem ternuras
Como se exalta em perfeições lânguida a tarde
O poente nos envolve em sangues de confissões
E a noite em remansos de estrelas adormece
Embalando no seio o criador generoso
E a grata criatura, extasiada de sua essência.

Pede o feliz anjo que o mundo tumultuoso
Ao berço dos esplendores se assemelhe
Que flua manso qual terno regato
Que com os corcéis da alvorada se emparelhe
Bocas, alentai-vos nos êxtases sagrados
Hinos, esvoçai ondeantes de comovidos olhos
E vós instantes, sê intimamente amados
Nos castelos ideais de lânguidos desvelos

A natureza, essa mulher serena e augusta
A todos os filhos bendita em paz acolhe
Transbordam de sua vasta alma generosa
Cardumes de alentos, formosas belezas,
Insuperáveis consolos aos humanos tormentos

Tudo em seu plácido albergue são contentamentos
Sereníssimas vozes de luz e paraísos
Qual a caricia grata dos sorrisos
Qual o mimoso enredo dos aromas
São as veigas de esmeralda, os ares de diamante.

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