domingo, 6 de abril de 2008

O Sonho de Reinar

O sonho de reinar, capricho sério
Ignora o império do aqui presente
No claro céu azul o esplendor etéreo
O mundo a verdejar no bosque: a mente
Constrói castelos, quer os portais abertos
Donde voem audazes desejos secretos.

Além, a quimera canta sua ária veludosa
Doura o momento de amplos poderes,
Não te basta a rosa colher dos seres
Ou o pitoresco alarde da venal mariposa?
Não; é preciso singrar além do possível
O muro fere o ideal, ave sensível.

Não vive o mundo da trama dos sonhos
Antes, convulso, só tem espinho e peçonhos
Latego cruel espanca a fada noturna
Cujos feitiços tecem paraísos risonhos
Mas eis que surge a saga humana diurna
E a esperança se abate em grotesca furna.

Um vendaval soturno envolve a luta
E a incerteza tece, em voz cava e astuta
A lei do cão que forja o gesto atroz
Tanto sonho dourado morre sem voz
Tanto mágico enleio sucumbe na garganta
Do reino cruento, do reino feroz.

Um mundo ideal é a abundancia, até
Ser provada em osso, seu rei, seus dilemas!
Cada classe possui seus próprios problemas
Cada face da vida que sorri é
Contraface a uma dor, cujos emblemas
Oculta a dor velada, e do inferno a fé!

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