quarta-feira, 18 de junho de 2008

Evocatória

Mundos que habitais este meu ser desconhecido!
Lúgubres, vívidos, robustos e melancólicos.
eu vos convoco, ora à força, ora em bucólicos
devaneios me desfazendo.
Vos convoco conforme a vossa secreta essência
placidamente lírica ou em sensual efervescência.

Vinde, queridos transes, que esta alma já cansada
das coisas desta esfera evoca desolada.
Vos alcançar em sonhos já consinto.
Vos possuir! Se vos possuo, minto,
contentando-me em ter só vosso espectro
conforme o idealiza o pensar decrépito.

O meu discurso lancei aos quatro ventos.
Ouve-me o céu, os campos sem tormentos
em angélica mansidão repousados.
Possa arrancar com grandes pensamentos
do mundo real os vários firmamentos
da matemática razão ignorados,
aí, bem acima dela em ventura ocultos,
sagrados na imensidão. Eternos vultos!

Eu vos convoco com a mansidão canora
de quem quer muito, o muito ignorando,
que o valor do tesouro que se ignora
vale mais, mais sublime é que milhar contado.

Vinde a mim, ansioso vos procuro
angustiado de vos encontrar às vezes,
outras calmo, risonho e puro,
Inferno italiano, mar dos portugueses,
Homem em Pessoa, céu dos gregos Deuses,
ou empíreo de luz Goetheano
que a tanto trancende o que é humano!

1996

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