segunda-feira, 23 de junho de 2008

Quadros



Quadro I

À minha frente se estende o mar rugindo,
Acima o céu calado,
Às vezes um pássaro da floresta
Soltando uma escala perdida
Em meios aos ecos da criação.

Um rouxinol que se perde nos ares
Circundando um vôo atrevido
E o reclamar vigoroso dos mares
A roçar o áspero penedo.

Notar tudo isso é sinal de grandeza:
No reino de Deus os melhores
São os que agradecem de mãos fendidas
E não os que se esganam de dores
Pela importância adquirida.

Se este espetáculo acabar, que importa?
Deixai o tempo passar, sem medo.
Não temas, curte a ardentia
Das praias de verão.



Quadro II

Como veleiro sem mar
Como corredor sem rumo
Sigo avante a vislumbrar
As dores que em verso resumo.

Da aurora ao poente
Pesa-me o mando das horas
E calado, contente,
Me vergo às tais senhoras.

Imenso, o horizonte acena
Me chamando a novas aventuras
Mas preso no solo
Fico a esperar futuras
Novas, sem consolo.

1996

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