segunda-feira, 31 de março de 2008

Poema Filosófico

O desespero da morte no desespero da vida
Morrer e findar, sem rastro e sem continuidade.
Transformar-se em nulidade absoluta debaixo
Do escuro e fatal beco da cova, ah! Esse
Desespero é terrível, perante o desespero
De ser pobre e estar limitado pela pobreza
Ou ser rico e mesmo assim estar preso,
Perante as múltiplas formas de desespero
Da vida; é perante essa dura realidade
Que mentimos, acalentando risonhas esperanças,
Esperanças de ganhar na loteria, de ser amado
De encontrar a felicidade ou a glória dourada,
De cobrir-se de honras ou saciar-se de poder
Mais ai! Somos todos demasiadamente mesquinhos.
Queremos receber, mas raras vezes nos alegra dar
Vivemos regateando nossos dons orgulhosos
Como se fossemos bons demais para esse mundo
De borra, para esse mundo infeliz que não
Nos entende, não nos ama justamente, não
Oferece seus ouros e louros ao sagrado esforço.
Acalentamos esperanças que consolam, abrandando
O cerne do tempo que habitamos; não somos
Afinal bons demais para os outros, esses infernos?
São múltiplas as fomes insaciadas
Quem quisera conviver encontra o gelo
Quem quiser voar, o limite o fere
E há germes cruéis, miséria mais densa
Fomes mais cruentas, corações urrando
Lobos ferozes a devorar fetos de presas
Enquanto a maldade reclama o poderoso
Poucos são os que ousam saudar o dia
De coração puro e consciência acesa
E clamar: leva-me, rico caudal e harmonioso!
Antes queremos domar a indomável vida
Oh vida! Oh fera! Clamamos, tantas vezes
Fechados a partilhação dos múltiplos dons.
Antes, que a vida nos leve e assome
Sua florescência por todos os recessos do ser.
Louvar generosa e ilimitadamente a vida
Em comunhão, perante o extenso flagelo
Da morte: eis o meu secreto desejo.

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