segunda-feira, 17 de março de 2008

Corrupta Invernada

Por horas perdidas numa rua distante
Vagava a sós, anelante peregrino,
O céu de chumbo, precipício desolante,
Continha o anátema negro do destino.

Tudo em lamas vestia o caminho
Ânsias animais no ar se fundindo
Ao perfume doce e vago do carinho
As ventas suspirosas iam me abrindo.

Tu não te lembras, meu amor pretérito
Dos versos de Baudelaire, que decantavam
Com valor sublimado de cantar emérito
As doces volúpias que de horror matavam?

Ou então, recorda-te daquele tédio
Plasmado ao vício lasso da corrupção
Onde as prostitutas já sem remédio
Ofereciam lassivas o exausto coração?

Pois bem, era por mundos libertinos
Em meio ao lodo, ao asco perfumoso
Que eu errava em teus olhos cristalinos
Fluindo em castelos sensuais de gozo.

E era como se meu belo trajeto
Unindo meu pranto ao teu sorriso
Num envolvimento sólido e abjeto
Abrisse estradas de lodo e granizo.

Pois tu, minha bela invernada
Onde me acasala o suspirar da dor
És a urna vaga e imaculada
Das horas perdidas no lodo e no amor.

Nenhum comentário: