segunda-feira, 17 de março de 2008

Tardes Púrpuras

Amo as translúcidas tardes de fogo
Em que a saudade canta, pássaro erradio
E, preso as solares melancolias poentes
Envolve a terra com seu hino vadio.

As constelações de prata e de granito
Refulgem ao fundo nessa hora sagrada
Em que as asas de safira do infinito
Brilham quais rubis em tela magoada.

As urnas ardentes dos amores orvalhados
Pelo afeto que de lágrimas se tinge
Lançam pelos ares purpúreos brocados
De toda espectativa secular que os aflige.

Como um demônio a natureza reza
A sua missa de prantos e tristeza
Nobre alma afeita ao choro e a profundeza
Pulsa em mim nesta tarde de beleza.

Nos orgasmos tardios de um mundo diluido
Em broquéis, espumas e dolências vagas
Ferve o meu coração nostálgico e entretido
Na larva nascente das Grandes Dores Amargas.

Amo as tardes diamantinas e espasmadas
Deitadas sobre o leito cândido e vaporoso
As tardes de ouro, preciosas, são amadas
Por mim num suspiro manso e afetuoso.

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